22 de mai. de 2011

...

{...}E vos digo que este meu estar presa é muito menos grave do que o de muita gente, porque é físico. Pior é não ser livre na mente. E eu sou!

13 de mai. de 2011

Pão

- Estes dragões, de quem estás a falar, são só moinhos de vento - dizes...

Podem até ser só moinhos, mas eles, aqui dentro de mim, doem tanto, são mais fortes do que qualquer dragão...

 É que estou frágil. E as hélices girando vão dilacerando cada pedacinho de tecido que tocam. Os órgãos gritam desesperados e os olhos mentem, mas no fundo, estão tão desesperados quanto qualquer órgão interno. Não querem ser janelas de uma alma em preto e branco.
- Compremos uma cortina, então...
Mas tomemos cuidado, amor, para que o moinho não rasgue a cortina. É seda pura, importada da China.

O que? Mas é claro que o moinho não pode parar. Precisamos do trigo para fazer pão amanhã. E, enquanto isso, deixa-o moer cada pedacinho de tecido que toca. Precisamos de pão amanhã, sempre amanhã. Só a dor do moinho que não é nunca adiada.

E eu aqui, vazia, morrendo de fome...

17 de abr. de 2011

Parte ida

Partida é mais ou menos assim:
É um pedaço, par, que parte
E outro, tida, que partido fica.


Par                                                                                                          tida

13 de abr. de 2011

Meninos

São tão bonitos os meninos. Não me refiro àqueles menininhos, quase bebês que ainda precisam da mãe para dar banho e levar à escola. Bem, talvez meus referidos também precisem, mas geralmente preferem a mãe longe de certas questões pessoais, pois querem mostrar ao mundo o quão independentes são. Mas no fundo, estão sempre agarrados a alguma garrafa que lhes remete à mamadeira dos tempos de infância. São tão bonitos esses meninos que ainda não são homens, mas não são mais tão meninos. Andam sempre em bandos, desengonçadamente e evitam se tocar. Porque menina se abraça, diz eu te amo para a amiga e vai ao banheiro junto. Menino não. Eles raramente soltam a franga. Costumam fazer isso quando são crianças e alguns depois de adultos, mas enquanto meninos, nunca soltam a franga. Exceto quando estão assistindo algum jogo de futebol. Mas aí é outra história, porque é tudo pelo Mengão, pelo Vascão ou algum outro ão.
 Com eles é tudo ão. Porque gostam de aumentativos, talvez pela ansiedade de transformar em adulto o que na verdade é só um meninão. São tão bonitos esses meninos quando riem estrondosamente de alguma piada, quando brincam com um amigo ou confortam meninas no peito quase malhado de quem vai para a academia três vezes por semana. São bonitos também quando se esquecem de propósito de fazer a barbinha rala, só para mostrar que já a têm ou quando inventam mil maneiras de dizer que ama quando só um ‘eu te amo’ bastaria. São bonitos esses meninos inseguros. São bonitos, sobretudo, quando se enchem de uma segurança que tiram sei lá de onde para desbravar, cheios de medo, o mundo das mulheres. E depois crescem, tiram de letra tal mundo, tornam-se homens, mas querem continuar sendo meninos. Alguns continuam, não crescem nunca. Outros, porém, não conseguem. Mas no fim, todos eles continuam tendo medo de TPM. 

28 de fev. de 2011

Quero mesmo, Chico, um dia esquecer meus olhos encantados em cima dos seus azuis. E, se, por não acaso, viesse a morte súbita me incomodar, que pelo menos me deixasse ela de olhos abertos, pra eu continuar fitando os seus assustados.

18 de fev. de 2011

O que é este gosto de Lua Cheia que entra pela minha janela se não um chamado para a vida?

Vista da minha janela na Lua Cheia passada

15 de fev. de 2011

Sobre princesas e dragões

"Minas não tem mar. Lá, quem quiser navegar tem de aprender que o mar de Minas é em outro lugar.

O mar de Minas não é no mar,
O mar de Minas é no céu,
pro mundo olhar pra cima e navegar
sem nunca ter um porto onde chegar

Acho que é por isso que em Minas nasce tanto poeta. Poeta navega nos céus."

Trecho de Se eu pudesse viver minha vida novamente, de Rubem Alves. Isso me fez lembrar da minha infância, perdida na eternidade das caras e bichos que via as nuvens formarem. E eu achava que lá longe, lá onde eu via o céu tocar o chão, era onde até criança conseguia alcançar as nuvens. Sonhava acordada em montar nos dragões de algodão e brincar com as princesas de pele alva. Até que um dia me disseram que aquilo era o horizonte. Depois daquele dia, o céu nunca mais tocou o chão.

13 de fev. de 2011

...

Vi um vídeo do Chico em preto e branco. Achei um desperdício de olhos azuis.

12 de fev. de 2011

radicalmente chatos

- Pra mim, todo radicalismo é burro.
- Pois você acabou de ser radical.
 - Ok. Todo radicalismo, com exceção deste, é burro.
- Se tem exceção, não é um radicalismo. Portanto, o 'com exceção deste', é incoerente.
- Foda-se!

11 de fev. de 2011

FF,

se eu fosse capaz de escrever neste papel o brilho mágico que há em seu olhar, talvez você entendesse a falta que ele me faz.

10 de fev. de 2011

"Morrer não dói"

Vi vidas tão, mas tão vividas que se punham de face diante da morte com a mesma serenidade de uma borboleta que vai voando pelos ares sem ousar cortá-los. Elas nem sabem que entre os humanos (essa raça ainda tão medíocre), já se tornaram símbolo de poesia, por viverem tão tranquilamente suas únicas 24 horas de vida. Como se elas tivessem essa consciência... E se a tivessem, o que mais poderiam fazer além de porem-se face a face com a morte na serenidade que só elas mesmas têm?

O que será, meu Deus, dessas vidas que vi, vividas, quando se romper o tênue fio de prata que as mantém deste lado, que é o único que pensam conhecer?

15 de jan. de 2011

O caso da cabutcha

- Abóbora cabutcha na sopa? Que nojo! Aposto que isso é coisa da sua mãe.

Típico domingo. O dia sagrado quando, mesmo depois de toda uma semana chuvosa, fazia sol.  Neste, no entanto, chovia. Deveriam ter entendido o sinal de atipicidade logo no começo. Mas isso não aconteceu. 
Acordaram cedo, como ditava a tradição e saíram com dois dos filhos para comprar as coisas pro almoço. A ele, obviamente, não lhe agradava levar as crianças, visto que elas faziam a conta pelo menos 30 reais mais cara.
- Aonde vamos hoje? – perguntou o pai, disposto a agradar.
- Pode ser na feira mesmo, vamos comprar só alguns legumes e fazer uma sopa, já que está frio. – respondeu a mãe, de forma simples.
- Eu vou querer comer pastel – havia empolgação na pronúncia de cada palavra dita pelo garoto de 10 anos, que amava os domingos.
A irmã mais velha que não gostou muito da idéia, sugeriu que fossem ao supermercado.  –... porque na feira não tem mussarela e eu quero fazer um canelone pra gente.
- Ok, vamos ao supermercado então.
E foram todos rumo ao supermercado. Quando chegaram lá, o estacionamento estava lotado e o interior do local parecia um formigueiro. Decidiram ir a outra unidade da mesma rede. Mais atipicidade e, mesmo assim, continuaram brincando com a sorte. Pobres mortais...
Chegaram ao supermercado que, embora cheio, ainda tinha vagas no estacionamento. Não por ter menos pessoas, mas por ser maior.
- O que é que esse bando de desocupados vem fazer num supermercado domingo de manhã? Ainda mais um chuvoso desses, bom pra dormir. – a garota, que odiava locais lotados, estava indignada.
- Comprar mussarela pra fazer canelone. – respondeu o irmão.
- Mas eu só acordei porque VOCÊ estava fazendo barulho na porta do meu quarto, insuportável.
- Eu vou jogar os dois pela janela. – ameaçou a mãe.
- O carro está parado mesmo... – respondeu o garoto.
A mãe apenas respirou fundo, abriu a porta e saiu do carro. Assim como os outros integrantes da família, que correram até a parte coberta, a fim de se livrarem da chuva fria.
Foram direto para a parte de hortifruti, que se encontrava estrategicamente posicionada ao lado dos refrigerados. Os filhos foram procurar a mussarela e os pais, os legumes. Quando mãe e filha se cruzaram, a mãe disse que os vegetais não estavam muito bons, então ela os compraria na feira. A filha, que já estava a ponto de enlouquecer com o movimento, quis ir embora logo, pois não enfrentaria a fila gigante só pra comprar a mussarela. Só não lhes digo que saíram como entraram porque estavam todos ao menos uma pitada mais estressados. Com exceção da criança, claramente.
A garota, que estava mais apressada para sair, ia na frente abrindo caminho entre as centenas de pessoas que se encontravam amontoadas em frente aos caixas.  E amaldiçoava cada um dos velhos baixinhos gordos e carecas que olhavam para o outro lado só para se pouparem do esforço de abrir caminho. Em meio à confusão, o pai cutucou a filha, que impacientemente olhou pra trás, com uma interrogação no rosto.
- Você gosta de abóbora cabutcha, não gosta, filha? – perguntou o pai.
A garota, estressada e sem entender nada, só disse que sim com a cabeça. O pai sorriu satisfeito para a mãe que odiava a abóbora em questão. 1 x 0 para o time dos homens.
 Não precisaram correr até o carro, pois a chuva havia cessado. No entanto, as coisas não estavam nem perto de ficarem normais. Ainda estava nublado. A caminho da feira, a mãe perguntou:
- Gente, o que vocês querem que eu coloque na sopa?
- Ah, mãe, o de sempre. Batata, cenoura, batata doce, sei lá. Tanto faz. 
- e abóbora cabutcha - cutucou o pai.
- Abóbora cabutcha na sopa? Que nojo! Aposto que isso é coisa da sua mãe. 1x1
Os filhos se olharam com uma espécie de cumplicidade. Já sabiam o que acontecia quando a mãe resolvia citar a avó.
- Pelo menos meus irmãos são honestos. – respondeu o pai. 2x1
- Honestos? Mas não tem nenhum que se disponha a cuidar da sua mãe. A coitada tem é que ficar com a nora. 2x2
- Sim, honestos. Nunca roubaram nada que é meu. 3x2
- E os meus roubaram, por acaso? Já te falei que odeio esses assuntos de herança e aquilo não era nada meu. Nunca trabalhei por aquelas coisas. 3x3
- Nossa, quanta harmonia! Nada melhor para alegrar minhas manhãs de domingo. – interrompeu a filha, antes de a briga fosse longe demais.  Mas parece que ela já havia ido. E então um silêncio absoluto reinou no carro. Nem o garoto que gostava tanto de falar se atreveu a quebrá-lo. Voltou a chover.
O jogo ficou empatado por mais ou menos dois dias. A mãe mudou-se para o quarto de hóspedes durante esse tempo. Voltaram a se falar depois, como sempre. E ninguém jamais se atreveu a entrar com uma cabutcha dentro de casa depois do ocorrido. Salvo nas festas de haloween.    

12 de dez. de 2010

Little Sour

Nela, duas coisas me marcaram:
01- quando me disse que sentia por mim o mesmo que sentia pelas irmãs.
02- quando agiu comigo de forma que eu jamais agiria com minha irmã.

5 de mai. de 2010

A física no abstrato

É etéreo como a água o amor que, não vendo mais motivos para ficar no chão, agita-se e se incorpora ao ar a fim de viver novas aventuras, explorar outros horizontes. E ali ele fica, invisível e impalpável como as moléculas de hidrogênio e oxigênio juntas às várias outras. E a gente sente aquela sensação de leveza, física mesmo; até descobrir-se na prática que aquele amor evaporado, assim como as partículas de água, tem todo potencial para no momento mais inesperado virar chuva e causar uma tempestade. Daquelas que afogam em dois minutos ou menos.

Luz 

2 de mai. de 2010

Inocência das Minas Gerais


 Banhei-me certa vez num rio em Minas Gerais e apaixonei-me por aquelas águas límpidas e correntes que só vi lá. E por corrente serem, só as vi uma vez, pois continuaram seu ciclo infinito e eu, o meu. Já havia aceitado que a vida é assim mesmo, são desencontros, que tudo vem e tudo passa, inclusive as águas do São Bento.
 Anos depois, vim ao Rio de Janeiro e não encontrei o tal Rio nascido em Janeiro, mas vi algo muito maior: o mar. E o mar era traiçoeiro, não me tratava da forma serena que o rio fazia. Empurrava-me por cima, puxava por baixo e queria, a todo custo, levar-me com ele. Que surpresa não tive ao ver naquele gigante as águas que conhecera no bebê em Minas Gerais. As mesmas águas que me acariciaram na infância agora me trapaceavam e tentavam tomar-me para si. Fiquei pensando na quantidade de coisas e pessoas que essas águas não tiveram que enganar para tornarem-se este único gigante. É o modo como muitos crescem, e quem sou eu para julgar? O correto é relativo, cada um traz em si os valores que sua vivência lhe deu.   
Deixo a ingenuidade em Minas Gerais e venho então crescer no Rio de Janeiro, como as águas do São Bento, o pouquinho de Minas que o mar tem o privilégio de possuir.

“Mar, não chores mais, só eu sei o quanto é triste, mar, ficar longe das Minas Gerais...”
Luz