13 de mai. de 2011

Pão

- Estes dragões, de quem estás a falar, são só moinhos de vento - dizes...

Podem até ser só moinhos, mas eles, aqui dentro de mim, doem tanto, são mais fortes do que qualquer dragão...

 É que estou frágil. E as hélices girando vão dilacerando cada pedacinho de tecido que tocam. Os órgãos gritam desesperados e os olhos mentem, mas no fundo, estão tão desesperados quanto qualquer órgão interno. Não querem ser janelas de uma alma em preto e branco.
- Compremos uma cortina, então...
Mas tomemos cuidado, amor, para que o moinho não rasgue a cortina. É seda pura, importada da China.

O que? Mas é claro que o moinho não pode parar. Precisamos do trigo para fazer pão amanhã. E, enquanto isso, deixa-o moer cada pedacinho de tecido que toca. Precisamos de pão amanhã, sempre amanhã. Só a dor do moinho que não é nunca adiada.

E eu aqui, vazia, morrendo de fome...

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