Seu Joaquim tem 89 anos e disse que só amara verdadeiramente uma vez na vida e que tal amor não tivera chance de se realizar. Então se casara com algo próximo de uma paixão, tivera filhos, netos e era muito feliz, mas o tal amor de verdade ainda vivia naquele velho coração fraco.
A paixão foi quem o namorou em pracinhas e não pensou duas vezes na hora do ‘Sim. ’. Foi a paixão quem dividiu com ele a alegria de uma primeira gravidez, discutiu na escolha do nome e apostou com ele qual seria a cor dos olhos da criança. Era a paixão quem fazia o melhor risoto quatro queijos e servia com a pimentinha verde no canto do prato e refrigerante de limão. A paixão foi quem por durante quase quarenta anos tinha o costume de desvirar seus chinelos e posicioná-los corretamente à beira da cama. A paixão o acalmava e lhe proporcionara as melhores noites de sua vida. A paixão é quem se deixava ter as contas pagas por ele e se estressava quando ele abusava no colesterol.
E, quando o velho coração aos poucos fosse parando de bombear o sangue para todo o resto do corpo cansado, aquele amor de verdade ainda estaria ali, embora quem fosse despedir-se dele seria o olhar da paixão, a paixão que esteve sempre presente, fazendo com que o amor de verdade e não realizado fosse ao menos suportável e não explodisse seu peito.
Luz
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