17 de fev. de 2010

Saindo da Rotina


Acordou atrasado num dia comum. Era um a menos. Vestiu-se mecanicamente e saiu como fazia diariamente. Comeu o mesmo pão de queijo com café, andou pelas mesmas ruas, pensou nas mesmas dificuldades, tropeçou nas mesmas pedras. Como há muito não ocorria, algo mudou sua rotina. Encontrou uma bala perdida e a recebeu de peito aberto, abrigou-a em seu coração. Caiu deitado no chão e pela primeira vez reparou no céu. O azul bonito, o aspecto macio e sedoso das nuvens que brilhavam contentes ao toque dos raios do sol.  Tudo estava correndo normalmente, era como se ele já tivesse morrido várias vezes, seguia obediente o roteiro. Então veio ela, a inevitável e o abraçou com força. Seu coração era um rufo de tambor e aos poucos fora se transformando no batuque leve da bateria até parar. Tudo foi ficando escuro e ele já não mais existia, era inverno.  E como se não bastasse, nem as estatísticas ou o jornal das sete o reconheceram. Sua morte não importava, tivera a infelicidade de morrer no carnaval, ofuscado por confetes e serpentinas.

Luz 


3 Mississipi:

Paulo Jorge Dumaresq disse...

Mais um coração de carnaval foi beijar docemente o céu.

tacigt disse...

Adorei sua simplicidade aliada à força do bom português e imaginação tão fértil na hora de construir cada linha de texto. A história é relativamente simples e banal se formos analisar, mas você a conta com uma riqueza de detalhes tão grande e tao gostosa de ler que é previsível extrair dessa sua escrita, um filme pra mente desocupada do leitor. Adorei o blog!

Beatriz disse...

Ah, espero sair da rotina de outra forma!
É o que dizem; se não vai por bem, vai por mal, não é mesmo?

Seus textos são... incríveis. São doces...

Muita Luz!

B.M.P.