Ele era um rapaz como qualquer outro. Morava num barraco mais ou menos igual aos outros. Comia praticamente igual aos outros e vivia semelhantemente aos outros. Já era estatística desde que nascera. Também nascera mais ou menos igual aos outros.
Vivia para trabalhar, trabalhava para comer e comia para viver. Sua vida era vida dos outros. Era brasileiro. Brasileiro pobre e desajeitado. Não se julgava capaz de entender o mundo, mal entendia a si próprio. Ele bem que tentava.
Como não tinha varanda, todas as noites abria a janela do quarto e colocava o colchão (improvisado que certa vez ganhara de uma velha vizinha costureira que já havia falecido) próximo à ela e sentia a brisa que mesmo mal cheirosa, acariciava-lhe o rosto de maneira que ninguém jamais fizera antes.
Não gostava muito de pessoas (ou talvez as pessoas não gostassem muito dele). Não tinha com quem conversar, então escrevia. Escrevia o que não dizia. Escrevia o que sentia.
Todas as noites através de sua janela, assistia fascinado à lua no céu. Admirava-a por sua beleza tão singela e dócil. Admirava-a porque mesmo estando acima de tudo, ainda era humilde e ao contrário do sol, permitia que todos a apreciassem. Ela não se escondia atrás do próprio brilho e isso era bom.
Mentia para si próprio que era uma pessoa feliz e se considerava um tanto que atraente. Aprendera certa vez que clara de ovo fazia bem para os cabelos. Não sabia muito bem como separar clara e gema, então passava as duas e não enxaguava. Mal sabia ele que sua aparência não era das mais agradáveis, e seu perfume também não.
O tempo foi se passando e o rapaz já não via muita graça em viver. Viver era monotonia. Resolveu então acabar de vez com tamanho tédio. Então pontuou. Colocou um negro e redondo ponto final em sua história.
Não era o bastante. Mesmo com toda a insignificância, sua vida não poderia terminar com um mísero ponto. Pintou outro. Mais negro do que o anterior, o segundo ponto parecia imponente, severo. Mas se observado atentamente, era possível que suas imperfeições fossem notadas. Então, pela primeira vez o rapaz sentiu algo estranho dentro de si. Algo que denegria o que sentia pela lua ou por qualquer outra coisa, algo que maculava qualquer sentimento que ele já tivesse sentido. Era uma sensação até então desconhecida, mas que o fazia querer mais cada vez mais. Estava descobrindo a ambição, sentimento movedor do mundo.
Insatisfeito, atacou o papel com um novo ponto. Desta vez parecia ter alcançado algo próximo da perfeição, coisa que jamais fizera antes. Antes de finalmente descansar em paz, parou e notou que havia pintado três pontos e que juntos, os pontos perderam a idéia de fim.
Percebeu então que a união causada por sua ambição o livrara do fim. E aprendeu que os fins não existem. Percebeu também que os episódios que às vezes julgamos finais, nada mais são do que oportunidades para novos começos e aprendizados. E que um só ponto não foi o suficiente formar um fim, mas três deles...
1 Mississipi:
meeew, adoreeeei *----*
sem comentários, o melhooor :D
continuaa assim Gabi :*
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