Triste Engano

Ainda era noite, noite vazia. Muito chovia, estava frio, era quase dia. Eu não sabia se era hoje ou se já era amanhã. Estava muito preocupada e com um só foco: meus olhos que insistiam em se fechar, e por mais que eu tentasse, eles teimavam. Estava quase impossível, mas eu estava determinada.Iria ficar acordada. Por quê? O telefone. O telefone estava mudo, não se pronunciara até então. E pelo visto ficaria assim por um bom tempo. Mas eu estava disposta a esperar e por mais que meus olhos teimassem, e ardessem para me castigar, eu estava ali firme e forte. Não havia mais pelo que esperar. Depois de tanto tempo, pela primeira vez o telefone não tocou, pela primeira vez a lembrança não me despertou. Já não havia um motivo concreto pra tanta espera. Talvez meus olhos só estivessem fazendo o melhor pra mim, me livrando daquela espera torturante. Talvez eu devesse deixar que eles vencessem a batalha, talvez eu devesse ajudá-los a se fecharem e por um momento viajar para os meus sonhos, onde tudo é mais bonito. Então eu parei de resistir, desisti. Fechei os olhos, deixei que meu corpo cansado fizesse o resto do trabalho. E quando já estava quase em transe, TRIIIIM. Tocou! O telefone tocou. Eu sabia que ele iria se pronunciar mais cedo ou mais tarde. Pena que não seria agora. É, mais uma bola fora. Não existia nenhum João aqui. Era o [in]esperado que teve que acontecer. Não era o que eu queria, mas um insano que digitara errado o número e finalizou a ligação como quem acabara de cometer um triste engano.